Quem acha que existe um único tipo de Capitalismo está muito defasado. Da mesma forma que existem vários socialismos, existem vários capitalismos e corremos o perigo de destruir um em particular. Temos o Capitalismo da Exploração, o Capitalismo da Cooperação e o Capitalismo da Especulação.
Capitalismo da Exploração: é aquele tão bem descrito por Karl Marx,
da empresa controlada por uma única família e gerenciada por ela com o objetivo
da maximizar lucro, reinvestir este lucro acumulado, porque lucro era a única
forma de gerar capital na época.Na época de Karl Marx não existiam bolsas de
valores e empresas de capital democrático, que conseguiam capital e poupança
via lançamento de ações. Maximizar e reinvestir este lucro era a única
opção.No
Capitalismo de Karl Marx as empresas eram muito pequenas, 200, nacionais,
e por isto empresários eram favoráveis a regimes
fascistas, nacionalistas que garantiam um mercado fechado. O
crescimento das empresas era lento, dependia do lucro reinvestido, e por isto
não conseguiam absorver na rapidez necessária o desemprego gerado pelas novas
tecnologias descritas por Karl Marx. O erro de Karl Marx foi confundir capital
com tecnologia, e não perceber o impacto da revolução administrativa e
financeira que surgia diante dos seus próprios olhos, que viria a ser o Capitalismo da Cooperação.
Capitalismo da Cooperação: foi o capitalismo que substituiu as famílias capitalistas como
gestoras, limitadas a oito parentes em média, por enormes sistemas
de recursos humanos e de técnicas administrativas que
geraram cooperação mútua de pessoas estranhas entre si juntando não 200, mas
20.000 a 200.000 empregados como hoje. O crescimento do tamanho das empresas é um dos
principais fatores da riqueza das nações, como mostram as tabelas abaixo, e não a educação
e políticas públicas, como muitas vezes é alegado. A força reserva de
trabalho prevista por Karl Marx e um salário ínfimo eterno não
se concretizaram, uma vez que empresas do Capitalismo da Cooperação
contrataram num ritmo muito superior do que o desemprego causado pelas descobertas
tecnológicas a que Marx se opunha. Isto nos países que valorizaram os
protagonistas do Capitalismo da Cooperação, que foram os EUA, Japão e Coreia.
Não o Brasil, infelizmente. Tivemos o melhor dos dois mundos. Crescimento
brutal da produtividade do trabalhador devido a tecnologia e o capital, com o
emprego em massa proporcionado pelo Capitalismo da Cooperação. As
famílias nacional-fascistas, foram substituídas por administradores
profissionais, alguns treinados em administração
socialmente responsável e que se tornaram globais, levando
tecnologia e capital para países mais pobres do terceiro mundo,
levando know how e as técnicas do Capitalismo da Cooperação.Capitalismo da Especulação: infelizmente, a partir de 1980 os governos começaram a se endividar assustadoramente, ao ponto que hoje EUA, Itália, Espanha e até a Cidade de São Paulo, possuem dívidas assustadoras. Em 1987, o Brasil quebrou devido seu elevado endividamento estatal externo. Em 1994, idem. Este Capitalismo gerou um fenômeno conhecido em economia como “crowding out”, sufocando o Capitalismo da Cooperação, o capital é limitado, e todos os sistemas concorrem entre si. O triste é que este Capitalismo na mão do Estado tinha como objetivo sufocar o Capitalismo da Exploração de Karl Marx, sem perceber que estavam sufocando a verdadeira solução. Pior, estas dívidas estatais permitiram um novo tipo de Capitalismo, o Capitalismo da Especulação gerando enormes possibilidades de ganhos àqueles que entendessem de juros, câmbio, déficits públicos, e tivessem amigos no governo. Derivativos dos mais variados tipos foram criados como Futuro de Juros, Câmbio, Arbitragem Long -Spot, Swap Reversos de Câmbio e permitiram a especuladores ganhar muito dinheiro, como George Soros, Black Scholes, Econometristas Quantitativos e Hedge Funds. Estes por sua vez se tornaram grandes incentivadores das políticas Monetárias e Keynesianas governamentais com mais endividamento do Estado, intervenções do estado na economia, que permitiam inside information e muito mais volatilidade. É este Capitalismo que aqueles que querem Ocupar Wall Street precisam eliminar, e com razão. Mas nada tem a ver com os bancos e seus executivos.
Se rotularmos todos os três capitalismos no mesmo saco, se incluirmos o Capitalismo da Cooperação, aquele que Harvard e Stanford e todos os administradores profissionais, os engenheiros de produção, as psicólogas dos departamentos de RH, os profissionais de comércio internacional, os advogados de contratos e tantos outros criaram, poderemos voltar à curva da prosperidade rapidamente no sentido contrário das tabelas acima. Foi o Capitalismo da Cooperação que destruiu o Capitalismo da Exploração, eliminando o capitalista como gestor, pulverizando o poder dos capitalistas nas empresas de capital democrático, criando uma preocupação com os stakeholders e não somente com os stockholders. Foi o Capitalismo da Cooperação que destruiu a figura do Dono e Patrão e colocou o Capital na mão de trabalhadores e seus fundos de pensão.
***Infelizmente no Brasil, as universidades brasileiras e seus intelectuais nunca apoiaram os defensores do Capitalismo da Cooperação, razão pela qual ainda temos o Capitalismo da Exploração das empresas familiares, com poucas empresas de capital democrático inscritas no Novo Mercado (56), e uma classe de administradores profissionais sem apoio da intelectualidade do Brasil. Por isto, o Brasil está mais próximo do Capitalismo da Especulação, com tantos Hedge Funds, juros altos, Swaps Cambial Reversos e dominado por aqueles que entendem de câmbio, juros e déficits em vez de produtividade e eficiência empresarial e governamental.