Nas
últimas décadas, o Saara aumentou de tamanho. Os
motivos?
Declínio na quantidade de chuvas aliado à degradação
do solo ocasionada por pecuária e desmatamento. A
solução? O projeto Grande Muralha Verde, desenvolvido pela UA
- União Africana e apoiado pela ONU - Organização das Nações
Unidas, no qual estão reunidos 11 países. Todos partilham dos mesmos
objetivos: plantar árvores pelo continente africano para
conter a expansão do mais extenso deserto quente do mundo, fornecer apoio para
o uso sustentável das florestas em regiões áridas e melhorar
a qualidade de vida das comunidades locais.
Uma
grande muralha verde, que se estenderia do Senegal até Jibuti para travar o
avanço do Sara, é o grande sonho de África, que deseja impulsionar o projeto,
parado há quatro anos, durante a COP15, a conferência mundial do clima
promovida pelas Nações Unidas em Dezembro, em Copenhague (Dinamarca). África não irá com as mãos vazias para
a cimeira de Copenhague. O projeto da grande muralha verde será apresentado
pelo presidente senegalês, Abdulaye Wade, informa Djibo Ka, ministro do
Ambiente senegalês. O projeto, no entanto, enfrenta o seu maior obstáculo, que
é o financiamento. A ideia de criar uma barreira de vegetação e bacias de
retenção para acumular a água da chuva de 7000
km de extensão e 15
km de largura foi lançada pelo ex-presidente nigeriano
Olusegun Obasanjo em 2005 e posteriormente retomada pelo seu homólogo
senegalês. Segundo a FAO, Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e
Alimentação, as florestas da zona sariana desaparecem a um ritmo preocupante de
dois milhões de hectares por ano. O aquecimento do planeta só acentuará o fenômeno, levando, além disso, a importantes migrações de populações em países
já pobres e instáveis. Dos 11 países associados ao ambicioso projeto, o
Senegal é o mais ativo, apesar das suas realizações serem modestas, pois
apenas 10 km
de muralha verde foram plantadas nos últimos dois anos, como reconhece o
ministro do Ambiente.
A nova Grande Muralha Verde
Um novo
muro é esperado, dentro de 20 anos, em África. Um muro diferente, feito de
árvores, para impedir o avanço do deserto do Saara.Trata-se da “Grande
Muralha Verde” um cinturão de árvores com cerca de 15 km de largura e 7.775 km
de comprimento que cruzará todo o continente africano, desde a Mauritânia até
Djibouti. O objetivo é travar o avanço do deserto, melhorar a gestão dos
recursos naturais e combater a pobreza. Quando a muralha estiver pronta, a
nova floresta cobrirá cerca de 11.662.500 hectares.
É que, segundo um estudo da
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, os onze países
implicados na construção da muralha verde (Burkina Faso, Djibouti, Eritreia,
Etiópia, Mali, Mauritânia, Niger, Nigéria, Senegal, Sudão e Chad), perdem uma
média de 1.712 milhões de hectares de floresta por ano, o equivalente a 34
Espanhas.
A solução para muitos
problemas
Em Sahel região entre o deserto
do Sahara e as terras mais férteis a sul, habitam quase 500 milhões de pessoas.
Mas as alterações climáticas e a aridez tornam cada vez mais difícil a
agricultura…
A falta de
oportunidades económicas em Sahel é outra das razões pela qual muitos africanos
decidem emigrar para a Europa ou ajudam na propaganda do extremismo islâmico.
Grupos como a Al Qaeda, o Boko Haram e o Magreb Islâmico aproveitam-se dos
jovens agricultores desesperados por uma vida melhor.
A Grande Muralha Verde Africana, que começou a ser construída
em 2008, pretende ser a solução a todos estes problemas. O projeto é ambicioso,
mas conta já com o apoio das Nações Unidas, da União Africana e do Banco
Mundial, que se comprometeu a financiar o projeto com 2.000 milhões de dólares.
O nosso
objetivo é parar o avanço do deserto e ajudar as pessoas e viver melhor na sua
terra“, explica Papa Sarr, diretor técnico da Agência Nacional da Grande
Muralha Verde no Senegal. “Quando há árvores, os micro-organismos na terra
regeneram e ajudam outros organismos a viver. Ao princípio é uma
transformação invisível mas é muito importante“, acrescenta.
Os novos
milhares de árvores absorverão dióxido de carbono e produzirão oxigénio, o que
poderia melhorar a qualidade do ar em muitas cidades africanas.
Um
processo lento e difícil em países instáveis
Oito
anos após a introdução das primeiras parcelas da nova floresta, na aldeia de
Kooyah, os especialistas afirmam que ainda é muito cedo para tirar conclusões.
A taxa de sucesso está entre os 70% e os 75%, mas varia drasticamente entre as
parcelas. Segundo as autoridades, a regeneração das espécies vegetais já se
verifica, mas é um processo bastante lento.
O maior obstáculo do ambicioso projeto poderia ser a instabilidade
política. É que a barreira pretende cruzar o Niger, o Sudão, Mali e Chad,
países com grupos armados e organizações terroristas, que impedem a entrada de
estrangeiros.
Nem
todas as comunidades vão entender o valor das árvores“, adverte a analista
política Mary Harper. Em lugares como a Somália, de onde vem a maioria da
população que vivem abaixo da linha da pobreza, “a nova floresta pode
rapidamente transformar-se em lenha e carvão“.