sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

ÁFRICA - A GRANDE MURALHA VERDE





Nas últimas décadas, o Saara aumentou de tamanho. Os motivos? 
Declínio na quantidade de chuvas aliado à degradação do solo ocasionada por pecuária e desmatamento. A solução? O projeto Grande Muralha Verde, desenvolvido pela UA - União Africana e apoiado pela ONU - Organização das Nações Unidas, no qual estão reunidos 11 países. Todos partilham dos mesmos objetivos: plantar árvores pelo continente africano para conter a expansão do mais extenso deserto quente do mundo, fornecer apoio para o uso sustentável das florestas em regiões áridas e melhorar a qualidade de vida das comunidades locais.
Uma grande muralha verde, que se estenderia do Senegal até Jibuti para travar o avanço do Sara, é o grande sonho de África, que deseja impulsionar o projeto, parado há quatro anos, durante a COP15, a conferência mundial do clima promovida pelas Nações Unidas em Dezembro, em Copenhague (Dinamarca). África não irá com as mãos vazias para a cimeira de Copenhague. O projeto da grande muralha verde será apresentado pelo presidente senegalês, Abdulaye Wade, informa Djibo Ka, ministro do Ambiente senegalês. O projeto, no entanto, enfrenta o seu maior obstáculo, que é o financiamento. A ideia de criar uma barreira de vegetação e bacias de retenção para acumular a água da chuva de 7000 km de extensão e 15 km de largura foi lançada pelo ex-presidente nigeriano Olusegun Obasanjo em 2005 e posteriormente retomada pelo seu homólogo senegalês. Segundo a FAO, Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, as florestas da zona sariana desaparecem a um ritmo preocupante de dois milhões de hectares por ano. O aquecimento do planeta só acentuará o fenômeno, levando, além disso, a importantes migrações de populações em países já pobres e instáveis. Dos 11 países associados ao ambicioso projeto, o Senegal é o mais ativo, apesar das suas realizações serem modestas, pois apenas 10 km de muralha verde foram plantadas nos últimos dois anos, como reconhece o ministro do Ambiente.
A nova Grande Muralha Verde

Um novo muro é esperado, dentro de 20 anos, em África. Um muro diferente, feito de árvores, para impedir o avanço do deserto do Saara.Trata-se da “Grande Muralha Verde” um cinturão de árvores com cerca de 15 km de largura e 7.775 km de comprimento que cruzará todo o continente africano, desde a Mauritânia até Djibouti. O objetivo é travar o avanço do deserto, melhorar a gestão dos recursos naturais e combater a pobreza. Quando a muralha estiver pronta, a nova floresta cobrirá cerca de 11.662.500 hectares.
É que, segundo um estudo da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, os onze países implicados na construção da muralha verde (Burkina Faso, Djibouti, Eritreia, Etiópia, Mali, Mauritânia, Niger, Nigéria, Senegal, Sudão e Chad), perdem uma média de 1.712 milhões de hectares de floresta por ano, o equivalente a 34 Espanhas.
A solução para muitos problemas
Em Sahel região entre o deserto do Sahara e as terras mais férteis a sul, habitam quase 500 milhões de pessoas. Mas as alterações climáticas e a aridez tornam cada vez mais difícil a agricultura…
A falta de oportunidades económicas em Sahel é outra das razões pela qual muitos africanos decidem emigrar para a Europa ou ajudam na propaganda do extremismo islâmico. Grupos como a Al Qaeda, o Boko Haram e o Magreb Islâmico aproveitam-se dos jovens agricultores desesperados por uma vida melhor.
A Grande Muralha Verde Africana, que começou a ser construída em 2008, pretende ser a solução a todos estes problemas. O projeto é ambicioso, mas conta já com o apoio das Nações Unidas, da União Africana e do Banco Mundial, que se comprometeu a financiar o projeto com 2.000 milhões de dólares.
O nosso objetivo é parar o avanço do deserto e ajudar as pessoas e viver melhor na sua terra“, explica Papa Sarr, diretor técnico da Agência Nacional da Grande Muralha Verde no Senegal. “Quando há árvores, os micro-organismos na terra regeneram e ajudam outros organismos a viver. Ao princípio é uma transformação invisível mas é muito importante“, acrescenta.
Os novos milhares de árvores absorverão dióxido de carbono e produzirão oxigénio, o que poderia melhorar a qualidade do ar em muitas cidades africanas.
Um processo lento e difícil em países instáveis
 Oito anos após a introdução das primeiras parcelas da nova floresta, na aldeia de Kooyah, os especialistas afirmam que ainda é muito cedo para tirar conclusões. A taxa de sucesso está entre os 70% e os 75%, mas varia drasticamente entre as parcelas. Segundo as autoridades, a regeneração das espécies vegetais já se verifica, mas é um processo bastante lento.
O maior obstáculo do ambicioso projeto poderia ser a instabilidade política. É que a barreira pretende cruzar o Niger, o Sudão, Mali e Chad, países com grupos armados e organizações terroristas, que impedem a entrada de estrangeiros.
Nem todas as comunidades vão entender o valor das árvores“, adverte a analista política Mary Harper. Em lugares como a Somália, de onde vem a maioria da população que vivem abaixo da linha da pobreza, “a nova floresta pode rapidamente transformar-se em lenha e carvão“.