sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

JOHN MAYNARD KEYNES - CAPITALISMO




O mais importante economista da primeira metade do século XX foi, sem dúvida, John Maynard Keynes (1883-1946), o filho de um professor de economia, John Neville Keynes, que nascera destinado a influenciar tanto na economia de seu país, a Grã-Bretanha, como nos Estados Unidos. Com exceção de Karl Marx, nenhum outro homem em toda literatura econômica causou tanto furor quanto ele, tanto na teoria como na prática econômica. O impacto de seu trabalho sobre o pensamento político e a formulação da política em quase todas as nações capitalistas. Homossexual ativo, participou de diversos grupos de defesa dos interesses da comunidade gay. Por causa de seu comportamento sua mulher se suicidou.
O último de seus escritos sobre a teoria econômica e também o mais importante surgiu em 1936, titulado "The General Theory of Employment, Interest and Money" (Teoria Geral do Emprego, do Juro e do Dinheiro). Keynes provocou adorações de uns e severa crítica de outros. Foi elogiado pela maioria das coisas boas e considerado culpado por muitas das coisas más que se tornaram parte da política nacional durante as duas últimas décadas. A dinâmica de suas teorias provocou a formação de um forte grupo pró-Keynes, enquanto os pontos vulneráveis das mesmas, juntamente com o que expressam ou implicam no tocante à ação governamental, produziram um forte grupo anti-Keynes.
Anterior ao pensamento revolucionário keynesiano, a "Microeconomia" pressupunha que as forças de oferta e de procura provocariam automaticamente ajustes para o equilíbrio em todos os preços e valores, plena utilização dos fatores de produção, e um preço de equilíbrio para o uso de cada um. Os desvios desses níveis eram considerados temporários. De modo geral, a análise anterior do preço e do valor assentava-se em hipóteses baseadas no laissez faire e a aplicação de tal teoria implicava uma política de laissez faire e a perfeita mobilidade dos fatores no seio de uma economia autorreguladora. Poderia-se exemplificar como casos específicos da Microeconomia a procura pelo trigo ou o nível salarial de uma determinada indústria.
Por outra visão, a "Macroeconomia" cuidava dos totais ou agregados. Tratava da renda nacional total segundo é afetada pelos gastos e poupanças totais. A Microeconomia está incorporada a esta. Observa o comportamento da economia total e reconhece que o dano de uma das partes é prejudicial ao todo. A idéia de fluxo é da mais alta importância pelo fato de que a renda total nacional da sociedade deve ser mantida em certos níveis para garantir os níveis desejados de investimentos, economias e emprego. É uma espécie de conceito de equilíbrio geral no total todo elemento da economia depende de todos os demais elementos. Contrariando a Microeconomia , não aceita o laissez faire, considerando-o, na verdade, uma filosofia inteiramente indigna de confiança e que pode ser julgada grandemente responsável pelas violentas perturbações no nível das atividades comerciais e pelo desemprego subsequente.
Contudo, a Macroeconomia é anterior a Keynes. A teoria dos ciclos comerciais, seja ela monetária ou não em sua maneira de apreciar a questão , interessa-se primordialmente pelos problemas das rendas e empregos flutuantes; esses problemas preocuparam os economistas por muitos anos. Os estudos primitivos sobre os ciclos comerciais raramente empregaram evidência empírica, mas pelo menos nos Estados Unidos a macroanálise existiu durante meio século. Keynes fez a ênfase recair inteiramente sobre os níveis das rendas segundo afetavam os níveis de emprego, o que constitui, naturalmente, uma ênfase diferente da encontrada nos estudos anteriores. É provavelmente verídico que toda a economia keynesiana tenha-se destinado a encontrar as causas e curas para o desemprego periódico. Keynes não encontro solução alguma para o problema em quaisquer trabalhos sobre Economia Política então existentes, sendo os seus esforços, portanto, grandemente exploratórios. Desviou-se claramente da maioria das Economias anteriores, até mesmo da de seu professor, Alfred Marshall, a qual era considerada pela maior parte dos eruditos quase sacrossanta. É verdade que muitas de suas ideias combinaram com as dos economistas anteriores, como Lauderdale, Malthus, Rae, Sismondi, Say, Quesnay e outros. Keynes combinou suas próprias teorias e os desenvolvimentos anteriores em uma análise que ocasionou transformações na Economia aceita em grau que raiou pela revolução.

ADAM SMITH - CAPITALISMO




Era filho de um segundo casamento do pai com Margaret Smith. Nasceu em Kircalldy, Edimburg na Escócia no ano de 1723. Frequentou o Instituto de Glasgow onde entrou com 14 anos. Mais tarde obtém uma bolsa que lhe permitiu matricular-se na universidade de Oxford com a intenção de seguir a carreira eclesiástica. Sentindo que não tinha vocação desistiu e voltou à sua terra natal. Por sua iniciativa começou a fazer palestras que lhe deram uma certa notoriedade. Isto abriu-lhe caminho para ser professor em Glasgow onde lecionou Filosofia Moral. Faleceu em 7 de junho de 1790 em Edimburg.
Obra: Adam Smith escreveu os seguintes livros: História da Astronomia, Linguagens, Sentimentos Morais, Jurisprudência e Riqueza das Nações. O mais conhecido e lido é a Riqueza das Nações. Existe uma edição da Fundação Calouste Gulbenkian em 2 volumes, encontrando-se o 1º volume esgotado.
É com base neste último livro que irei fazer uma análise do pensamento econômico e político de Adam Smith. Consultei também o livro “ Adam Smith “ da autoria de Gavin Kennedy ,editora Atual e ainda o Manual de Economia Política de Pedro Soares Martinez.
Evolução da sociedade: Adam Smith estabeleceu quatro etapas na evolução da sociedade: a era dos caçadores, a era dos Pastores, a era da Agricultura e a era do Comércio. Com o aparecimento da agricultura surge a propriedade privada e aqui começam os conflitos. Adam Smith diz o seguinte :  
“ sempre que há muita propriedade, há grandes desigualdades. Por cada homem muito rico tem de haver  quinhentos pobres e a influência de poucos pressupõe a indigência de muitos”. Para estabelecer a ordem tem de haver justiça e um governo que a imponha “ a aquisição de propriedade valiosa e extensa requer necessariamente o estabelecimento de um governo civil “.
O desenvolvimento do comércio e das manufaturas pôs a circular bens, criando riqueza e acentuou o declínio do feudalismo.
Mercado livre e criação de riqueza: Para Adam Smith a riqueza não está na acumulação de metais preciosos( ouro e prata ) como pensavam os mercantilistas. Também não está na agricultura como defendiam os fisiocratas. A riqueza provém da divisão do trabalho e da especialização.  A divisão do trabalho contribui para o aumento da produtividade e  o excesso de produção abre caminho ao mercado:  “permutar, negociar e trocar. “ Nas trocas e nos negócios tem de haver interesse de ambas as partes: dos que vendem e dos que compram. Adam Smith diz o seguinte:
“  não esperamos que o nosso jantar venha da bondade do talhante, do cervejeiro ou do padeiro, mas sim da consideração que eles têm do seu próprio interesse. Apelamos não à humanidade deles mas sim ao amor próprio deles e nunca lhe falamos das nossas próprias necessidades, mas sim das suas vantagens. Dá-me o que quero e terás aquilo que queres “.
Os preços no mercado surgem em função da oferta e da procura e o mesmo pode acontecer com os salários. Um dos elementos fundamentais do mercado é o comércio e este faz-se a partir do capital fixo ( maquinaria e imóveis)  e do capital circulante ( dinheiro ).
A mão invisível e o “laissez faire “: Apesar dos negociantes e mercadores agirem egoisticamente no mercado tratando em primeiro lugar dos seus próprios interesses, a verdade é que o mercado parece autorregular-se pondo a circular os bens que são necessários, subindo os salários quando a produtividade é grande e regulando os preços em função da procura e da oferta. Adam Smith usa a metáfora “ mão invisível “ para explicar este fenômeno.
Relacionada com a teoria da “ mão invisível “ está a ideia de que o Estado não deve intervir na economia.  Para Galvin Kennedy é um erro pensar que Adam Smith  tenha apoiado o “ laissez faire“.
E cita esta passagem do livro A Riqueza das Nações  : 
“mas o exercício da liberdade natural de algum indivíduo que faça perigar a segurança de toda a sociedade é e deve ser impedido pelas leis de todos os governos, tanto dos mais livres como dos mais despóticos “.  
 Há aqui portanto uma referência explícita à intervenção do Estado na Economia que põe em causa o “ laissez faire “
Funções ou deveres do Estado
1-Segurança- “ O primeiro dever do soberano, o dever de proteger a sociedade da violência e da invasão de outras sociedades independentes, só pode ser desempenhada por meio da força militar “
2-Justiça- Para que sejam garantidos os direitos e as liberdades de todos os cidadãos é necessário que haja uma justiça independente de todos os outros poderes. Adam Smith diz o seguinte: “ é necessário que o poder judicial esteja separado do poder executivo. O juiz não deve ser passível de ser afastado do seu cargo de acordo com os caprichos desse poder “.
3-Obras públicas, instituições para facilitar o comércio e a educação.
As estradas, pontes e canais são necessários para facilitar o comércio. A administração local poderia também colaborar nas despesas de manutenção  das ruas das  cidades.
Adam Smith defendia também que o Estado deveria contribuir para as despesas da educação e da saúde das pessoas mais pobres. Para fazer face às despesas públicas haverá impostos que serão tributados proporcionalmente ao rendimento de cada um.
Conclusão :
Adam Smith viveu durante o período Iluminista e foi contemporâneo da Declaração da Independência dos Estados Unidos da América e da Revolução Francesa.
É considerado por alguns como o pai da economia política. Na Riqueza das Nações faz uma análise  das relações econômicas desde os pastores recoletores até ao século XVIII, altura em que o comércio e a indústria começaram a desenvolver-se e a caminhar para a revolução industrial. Procurou  ainda estabelecer as relações causais que permitiram a criação de riqueza.  Utilizou também o método comparativo para dele tirar conclusões ou deduzir leis econômicas.
Não é como muitos pensam um teórico da economia liberal, do “ laissez faire “ ou do Estado mínimo. Além das atribuições que competem ao Estado ( Segurança, Justiça e Educação ) o Governo pode interferir na economia lançando impostos  e regulando o mercado. Adam Smith não era indiferente à pobreza e à miséria quando diz;  
“ Nenhuma sociedade pode florescer e ser feliz se a maior parte dos seus membros forem pobres e miseráveis. É uma questão de justiça que aqueles que alimentam, vestem e albergam todo o corpo da sociedade tenham uma porção do produto do seu trabalho para si mesmos, de forma que eles também sejam relativamente bem alimentados, vestidos e alojados “.
Isto significa que o crescimento econômico deveria ser acompanhado de salários mais altos, redistribuindo melhor a riqueza.
No livro a Riqueza das Nações, Adam Smith tem uma frase assertiva , muito importante que qualquer primeiro-ministro devia ler  e meditar. Essa frase diz o seguinte:
“Não existe arte que o Governo possa aprender mais depressa do que aquela de retirar dinheiro do bolso das pessoas “.

ÁFRICA - A GRANDE MURALHA VERDE





Nas últimas décadas, o Saara aumentou de tamanho. Os motivos? 
Declínio na quantidade de chuvas aliado à degradação do solo ocasionada por pecuária e desmatamento. A solução? O projeto Grande Muralha Verde, desenvolvido pela UA - União Africana e apoiado pela ONU - Organização das Nações Unidas, no qual estão reunidos 11 países. Todos partilham dos mesmos objetivos: plantar árvores pelo continente africano para conter a expansão do mais extenso deserto quente do mundo, fornecer apoio para o uso sustentável das florestas em regiões áridas e melhorar a qualidade de vida das comunidades locais.
Uma grande muralha verde, que se estenderia do Senegal até Jibuti para travar o avanço do Sara, é o grande sonho de África, que deseja impulsionar o projeto, parado há quatro anos, durante a COP15, a conferência mundial do clima promovida pelas Nações Unidas em Dezembro, em Copenhague (Dinamarca). África não irá com as mãos vazias para a cimeira de Copenhague. O projeto da grande muralha verde será apresentado pelo presidente senegalês, Abdulaye Wade, informa Djibo Ka, ministro do Ambiente senegalês. O projeto, no entanto, enfrenta o seu maior obstáculo, que é o financiamento. A ideia de criar uma barreira de vegetação e bacias de retenção para acumular a água da chuva de 7000 km de extensão e 15 km de largura foi lançada pelo ex-presidente nigeriano Olusegun Obasanjo em 2005 e posteriormente retomada pelo seu homólogo senegalês. Segundo a FAO, Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, as florestas da zona sariana desaparecem a um ritmo preocupante de dois milhões de hectares por ano. O aquecimento do planeta só acentuará o fenômeno, levando, além disso, a importantes migrações de populações em países já pobres e instáveis. Dos 11 países associados ao ambicioso projeto, o Senegal é o mais ativo, apesar das suas realizações serem modestas, pois apenas 10 km de muralha verde foram plantadas nos últimos dois anos, como reconhece o ministro do Ambiente.
A nova Grande Muralha Verde

Um novo muro é esperado, dentro de 20 anos, em África. Um muro diferente, feito de árvores, para impedir o avanço do deserto do Saara.Trata-se da “Grande Muralha Verde” um cinturão de árvores com cerca de 15 km de largura e 7.775 km de comprimento que cruzará todo o continente africano, desde a Mauritânia até Djibouti. O objetivo é travar o avanço do deserto, melhorar a gestão dos recursos naturais e combater a pobreza. Quando a muralha estiver pronta, a nova floresta cobrirá cerca de 11.662.500 hectares.
É que, segundo um estudo da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, os onze países implicados na construção da muralha verde (Burkina Faso, Djibouti, Eritreia, Etiópia, Mali, Mauritânia, Niger, Nigéria, Senegal, Sudão e Chad), perdem uma média de 1.712 milhões de hectares de floresta por ano, o equivalente a 34 Espanhas.
A solução para muitos problemas
Em Sahel região entre o deserto do Sahara e as terras mais férteis a sul, habitam quase 500 milhões de pessoas. Mas as alterações climáticas e a aridez tornam cada vez mais difícil a agricultura…
A falta de oportunidades económicas em Sahel é outra das razões pela qual muitos africanos decidem emigrar para a Europa ou ajudam na propaganda do extremismo islâmico. Grupos como a Al Qaeda, o Boko Haram e o Magreb Islâmico aproveitam-se dos jovens agricultores desesperados por uma vida melhor.
A Grande Muralha Verde Africana, que começou a ser construída em 2008, pretende ser a solução a todos estes problemas. O projeto é ambicioso, mas conta já com o apoio das Nações Unidas, da União Africana e do Banco Mundial, que se comprometeu a financiar o projeto com 2.000 milhões de dólares.
O nosso objetivo é parar o avanço do deserto e ajudar as pessoas e viver melhor na sua terra“, explica Papa Sarr, diretor técnico da Agência Nacional da Grande Muralha Verde no Senegal. “Quando há árvores, os micro-organismos na terra regeneram e ajudam outros organismos a viver. Ao princípio é uma transformação invisível mas é muito importante“, acrescenta.
Os novos milhares de árvores absorverão dióxido de carbono e produzirão oxigénio, o que poderia melhorar a qualidade do ar em muitas cidades africanas.
Um processo lento e difícil em países instáveis
 Oito anos após a introdução das primeiras parcelas da nova floresta, na aldeia de Kooyah, os especialistas afirmam que ainda é muito cedo para tirar conclusões. A taxa de sucesso está entre os 70% e os 75%, mas varia drasticamente entre as parcelas. Segundo as autoridades, a regeneração das espécies vegetais já se verifica, mas é um processo bastante lento.
O maior obstáculo do ambicioso projeto poderia ser a instabilidade política. É que a barreira pretende cruzar o Niger, o Sudão, Mali e Chad, países com grupos armados e organizações terroristas, que impedem a entrada de estrangeiros.
Nem todas as comunidades vão entender o valor das árvores“, adverte a analista política Mary Harper. Em lugares como a Somália, de onde vem a maioria da população que vivem abaixo da linha da pobreza, “a nova floresta pode rapidamente transformar-se em lenha e carvão“.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

HOLODOMOR - EXTERMÍNIO PELA FOME


Ao dar início à modernização da rústica União Soviética, Josef Stalin também iniciou o que ficaria controversamente conhecido como Holodomor. Enquanto a União Soviética exportava alimento e impunha forte crescimento industrial, dezenas de milhões de ucranianos passavam fome e o canibalismo se tornou prática usual no início da difícil década de 1930. Milhões pereceram ante a fome.
Também chamado de Holocausto Ucraniano ou de A Grande Fome da Ucrânia, o Holodomor (“extermínio” ou “assassinato pela fome”) teria ocorrido entre os anos de 1932 e 1933, tomando o último suspiro de vida de milhões na Ucrânia e no Kuban, ambas as regiões de etnia ucraniana. Contudo, há relativa divergência, sobretudo política, acerca do imenso número de mortos ser ou não decorrente de uma política genocida perpetrada pelo Estado Soviético. Ainda assim, o artigo em tela se baseou na corrente majoritária: houve genocídio.
Antecedentes
Em meados de 1928, o então líder soviético, Josef Stalin, sabendo da fragilidade da União Soviética perante as beligerantes potências estrangeiras, deu início a uma rápida e extraordinária modernização nacional mediante a execução do Primeiro Plano Quinquenal criado pelo Comitê Estatal de Planejamento (GOSPLAN), que dedicou prioridade às grandes obras de infraestrutura e à indústria pesada (siderurgia, maquinaria, etc.).
Nas extensas planícies do seu território, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) executou um radical projeto de coletivização da agricultura privada, que acabaria por desencadear uma grave crise política interna. A coletivização teria alcançado a impressionante soma de 25 milhões de lares e transformado a classe “abastada”, os kulaks, em sem-teto e impedidos de receber ajuda alheia.
O processo de coletivização demandava, para seu sucesso, a exclusão dos agricultores mais bem-sucedidos. No dia 3 de janeiro de 1930, Stalin decretou os kulaks como inimigos do Estado e, dispondo sobre as “medidas para eliminação dos pequenos agricultores kulaks nos distritos de ampla coletivização”, legalmente acabou por transformar a classe em inimiga nacional, pois a enxergava como uma possível fonte de insurreição futura. Estima-se que aproximadamente 10 milhões de kulaks foram desapossados de seu patrimônio e transformados em trabalhadores avulsos na engrenagem soviética.
Dessa forma, toda a União Soviética acabou sendo direcionada ao plano de cinco anos da GOSPLAN e as ações em face dos kulaks logo trouxeram grandes consequências: desapropriações, prisões, deportações e assassinatos. Muitos fugiram para Polônia e países próximos, outros abateram e defumaram seus animais para consumo próprio em vez de entregá-los ao Estado. Stalin, por sua vez, retaliou com violência e a polícia secreta soviética deu início às prisões em massa dos que resistiam à coletivização, deportando-os aos campos da Administração Geral dos Campos de Trabalho Correcional e Colônias, os conhecidos e temidos “GULAGs”.
 Na colheita de 1930, dos três grandes centros produtores de trigo da União Soviética (Sibéria Ocidental, Cazaquistão e Ucrânia), somente a Ucrânia alçou bons resultados correspondendo a aproximadamente um terço de todo o trigo produzido na gigantesca URSS. Todavia, teve quase metade de sua produção confiscada pelo Estado, o que preocupou as autoridades ucranianas pela necessidade de alimentar sua população e garantir os grãos essenciais à próxima semeadura.
Ainda, a radical coletivização agrícola e a perseguição dos kulaks já teriam dado causa a elevados danos às regiões de etnia ucraniana (Ucrânia e Kuban, esta ao norte da região do Cáucaso). Outrossim, por causa das colheitas medíocres realizadas em outras regiões, as regiões ucranianas sofreram exigências específicas para o cumprimento de suas quotas na entrega. Stalin acreditava que estas regiões estavam desviando ou estocando grãos em vez de entregá-los ao Estado, o que ensejou maior perseguição estatal e consequentes negações de pedidos de ajuda.
Outro fator que teria alicerçado a forte política stalinista repousa no argumento de que as regiões de etnia ucraniana eram vistas como o elo político mais frágil e conturbado, mas essencial à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Assim sendo, acreditava-se que tais regiões deveriam sofrer certo arrocho para que permanecessem vinculadas à “federação” soviética.
A fome que se abateria sobre a Ucrânia soviética foi prenunciada em 1931, quando “o fracasso da primeira colheita da coletivização foi evidente. As razões eram várias: o clima não ajudou; as pragas eram um problema; a tração animal era limitada porque os camponeses haviam vendido ou eliminado seus rebanhos; a produção de tratores era muito inferior ao previsto; os melhores agricultores “kulaks”, tinham sido deportados; a semeadura e a colheita foram desestabilizadas pela coletivização; e os camponeses que tinham perdido suas terras não viam razão para se esforçar demais no trabalho”. (SNYDER, 2012, p. 61, acréscimo nosso)
***O Holodomor 
 No fim do primeiro semestre de 1932, a escassez de comida se impunha, mas, mesmo com graves advertências, a quota de grãos estabelecida pela GOSPLAN sofreu nova elevação e as negações de ajuda por parte do Partido Comunista se intensificaram uma vez mais.
No dia 12 de junho de 1932, apesar dos protestos, Viatcheslav Molotov, membro da cúpula soviética, demonstrou a determinação do Estado no êxito do plano quinquenal:
Mesmo que hoje confrontados com o espectro da fome, principalmente nas zonas produtoras de grãos, os planos de coleta devem ser cumpridos a qualquer custo”. (IVNITSKII, apud: WERTH, 2015, s/p,).
No mês seguinte, na primeira metade do mês de julho, ocorreu a Terceira Conferência do Partido da Ucrânia e, com debates acalorados, ficou evidenciado que a nova cota não seria atingida, que seria irreal, um desvario de Moscou. Posteriormente, as colheitas da Ucrânia e do Kuban consubstanciaram o anteriormente dito na conferência, sendo insatisfatórias e fazendo a fome recair sobre a população o Holodomor teve início.
As coletas de setembro e outubro de 1932 foram catastróficas. Em setembro, apenas 32 por cento da meta mensal foi alcançado na Ucrânia e 28 por cento no norte do Cáucaso [em Kuban]. Em outubro, as entregas encolheram de novo: Em 25 de outubro, apenas 22 por cento da quotização obrigatória fixada para esse mês foi coletada na Ucrânia, e 18 por cento no Norte do Cáucaso” (SHAPOVAL; VASILEV, apud: WERTH, 2015, s/p, acréscimo nosso).
No final de 1932 e início de 1933, em meio à grande fome, miséria e mortes, camponeses e kulaks deram início a um processo de sabotagem na linha de produção agrícola, que acarretou severa punição por parte do Estado. A resistência ucraniana às ordens da capital soviética, Moscou, tornou-se “armada”, o que acabou por ser considerada uma contrarrevolução e, assim, militarmente acabou sendo combatida e neutralizada. Estima-se que aproximadamente 100 mil pessoas tenham sido presas e enviadas aos GULAGs.
Em 1933, entre os meses de fevereiro e julho, a fome chegou ao auge e uma arrebatadora onda de morte por inanição se alastrou como uma epidemia, obrigando muitos a praticarem canibalismo.
De acordo com relatório trocado entre membros da polícia secreta soviética:
 Pode-se mesmo dizer que o canibalismo tornou-se um hábito. Há alguns que eram suspeitos de canibalismo no ano passado e agora estão regredindo novamente, matando crianças, conhecidos e até mesmo estranhos na rua. Nas aldeias que são afetadas por canibalismo, a cada dia que passa fortalece a crença das pessoas de que é aceitável comer carne humana. Esta ideia é particularmente difundida entre as crianças.” (WERTH, 2015, s/p).
Em um cenário similar aos campos de concentração nazistas, tornou-se comum ver cadáveres nas ruas, parques e linhas férreas. Com o grande número de mortos e o consequente esgotamento de jazigos, praças e jardins começaram a servir de cemitérios. Placas foram inutilmente postas pelo governo proibindo a prática ilegal de enterro.
Os números de mortes divergem em grande escala, mas se mostram severos em quaisquer: estima-se que entre 3 e 7 milhões de ucranianos possam ter morrido por inanição, além de outros 3 milhões em outras áreas da então União Soviética, que negou e tramou para esconder a terrível mortandade até o ano de 1987, quando a reconheceu e abriu seus arquivos secretos. Todavia, ao que parece, sem se referir ao tema como genocídio ou afim.
O Plano Quinquenal de Stalin, concluído em 1932, trouxe desenvolvimento industrial à custa da miséria do povo. As mortes de camponeses ao longo das vias férreas eram uma evidência assustadora desses novos contrastes. Em toda Ucrânia soviética, os passageiros dos trens tomavam involuntariamente parte desses terríveis acidentes. Os camponeses famintos seguiam para as cidades ao longo das linhas de trem, alguns desmaiavam de fraqueza sobre os trilhos.” (SNYDER, 2012, p. 49-50).
***Após a coletivização forçada (aproximadamente sete milhões de pessoas, das quais três milhões de crianças), foram eliminadas sistematicamente através da supressão dos gêneros alimentícios produzidos pela Ucrânia, e o seu desvio para outras repúblicas soviéticas a preços subsidiados, num processo que ficou conhecido como "Dumping Soviético". A fome atingiu também as regiões ao sul da Rússia, médio e baixo Volga, sul do Ural, norte do Cazaquistão e oeste da Sibéria porém o termo Holodomor refere-se apenas aos mortos de etnia ucraniana. Foram prejudicadas principalmente as áreas de cultura agrícola que tinham condições de produzir excedentes para a alimentação populacional. No auge do genocídio, 25.000 pessoas morriam de fome todos os dias na Ucrânia.
O genocídio foi idealizado e planejado pelo membro do Partido Comunista da União Soviética Lasar Kaganowitsch, nascido em Kiew (Ucrânia) de pais judeus e colocado em prática por Josef Stalin. A fome, já usada antes na Fome russa de 1921, era o meio usado pela URSS para eliminar qualquer resistência ou oposição da população ucraniana, na época composta por 80% de camponeses, ao regime comunista.
Stanislaw Redens, cunhado de Josef Stalin e dirigente da polícia secreta soviética na Ucrânia, recebeu a incumbência de liquidar os proprietários de fazendas que empregavam trabalhadores assalariados (denominados de Kulak), e os contrarevolucionários que se opunham à política de coletivização da União Soviética. Houve a prisão de milhares de dirigentes de Kolchoses (fazendas coletivas), e por não ter sido alcançada a meta de produção de cereais em 1933, Stanislaw Redens foi destituído de suas funções. Em 1933, a catástrofe foi levado ao conhecimento público mundial pelos jornalistas Gareth Jones e Malcom Muggeride. A reação pró-soviética surgiu com o jornalista Walter Duranty, que desdenhou a gravidade do drama.
 O termo Holodomor compõe-se das palavras ucranianas Holod e Mor. Holod significa "fome" e Mor significa "morte", Assim Holodomor significa literalmente "morte por fome".
 Em julho de 2009, o Ministério Público ucraniano publicou uma lista de funcionários graduados do regime soviético, do partido comunista e do NKVD (serviço secreto soviético da época), envolvidos com o Holodomor. Destes, reconheceu principalmente lituanos e judeus como responsáveis pelo planejamento e a execução do crime. Em consequência, o "Conselho Central dos Judeus" solicitou ao Ministério Público “rever” a lista, eis que a mesma poderia incentivar o ódio racial na Ucrânia.
Sobre as causas do Holodomor há diversas concepções. Principalmente historiadores ucranianos enfatizam que se trata de um crime consciente, organizado e executado pelo regime soviético de Josef Stalin. O historiador judeu Miklós Kun, neto de Béla Kun, informa: " Foi um assassinato de milhões de seres humanos, executado de forma consciente e sistemática. (...) Enquanto em povoados ucranianos as pessoas desesperadas e alucinadas pela forme comiam folhas e brotos das árvores, gêneros alimentícios ucranianos eram revendidos em outras repúblicas soviéticas a preços subsidiados, no que se passou a chamar de "Dumping Soviético".
 Em contrapartida, historiadores russos argumentam que a fome decorreu de colheitas fracassadas, situação ainda agravada pela coletivização da agricultura e a decorrente oposição dos agricultores ucranianos. Tal fato porém não impediu a União Soviética de exportar cereais. O escritor, jornalista e sociólogo Gunnar Heinsohn”, constata que na Ucrânia, no Casaquistão e em algumas áreas do Cáucaso houve fortes resistências às desapropriações decorrentes das coletivizações agrícolas forçadas. A apreensão de víveres para agravar a fome, foi um meio utilizado para quebrar a oposição às desapropriações e para enfraquecer os movimentos separatistas destes povos. Evitou-se também o atendimento aos esfomeados e impediu-se as pessoas de se retirar das localidades atingidas pela fome.
 Gunnar Heinsohn caracteriza esta realidade como uma mistura de genocídio com "politicídio".
 A denúncia da verdade dos fatos muitas vezes é desdenhada por motivos políticos como “anticomunismo malévolo”.
Os defensores do conceito de crime de fome, consideram o Holodomor como fenômeno específico ucraniano e o denominam como "Ato de genocídio contra o povo ucraniano", provocado conscientemente pelo regime stalinista.
 Reconhecimento atual
Em meados de 1998, celebrou-se o dia da Memória das Vítimas da Fome e da Repressão Política, ocorrido anualmente no quarto sábado do mês de novembro. Doravante, o parlamento ucraniano ratificou ato apresentando ao mundo o Holodomor como genocídio.
Atualmente, o Holodomor, ou A Grande Fome da Ucrânia ou mesmo Holocausto Ucraniano, detém reconhecimento de países.
Os seguintes países reconheceram oficialmente a conceituação do Holodomor como genocídio: Argentina             Equador                Hungria          Paraguai
Austrália              Espanha                 Itália              Peru                                                                      Azerbaijão           E.U.A.                   Japão             Polônia                                              Bélgica                Estônia                  Letônia          Ucrânia
Brasil                  Geórgia                  Lituânia         Vaticano                    
Canadá                                              Moldávia
Contudo, ainda existe grande indiferença ou rejeição ao tema, de modo que alguns dos países centrais na política internacional vêm se abstendo de comentários. Outros, como a Itália, promovem até debates acadêmicos acerca do controverso tema.
A comissão jurídica da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa negou em 2010 à Ucrânia a definição oficial do Holodomor como genocídio. A recusa se deve à interferência da Rússia, tornando as proposições ucranianas inaceitáveis para a comissão.
O vice-dirigente da delegação russa, Leonid Sluzki” declarou:
"Todas alterações, entre elas a disposição sobre um genocídio contra a Ucrânia estão rejeitadas.
Motivo da rejeição foi a menção "em memória das vítimas da fome na ex-União Soviética", feita no relatório pelo presidente da assembleia, Mevlüt Cavusoglu. Este relatório já era uma versão desagravada, não obtendo mesmo assim a aprovação russa. Embora a assembleia reconhecesse que o regime stalinista era responsável por ação consciente, pela morte de milhões de seres humanos no Holodomor, não assumiram caracteriza-lo, em consideração à Rússia, como genocídio. Como justificativa apresentou-se o argumento de que durante a fome de 1932-1933 não houve apenas vitimas de um determinado povo.  O assunto Holodomor teria sido malversado para atender aos interesses de "determinadas facções políticas" na Ucrânia. Interessa também apontar que, na Internet, há um imenso número de registros fotográficos se referindo ao Holodomor, quando, na verdade, tratam-se de outros massacres e afins, tendo muitos ocorrido posteriormente e variando tanto no espaço quanto no tempo.
Inobstante, A Grande Fome da Ucrânia carece de um razoável número de fotografias, sendo a maioria o resultado do fruto da teimosia de observadores estrangeiros, que burlaram o sistema de repressão soviético e propagaram as atrocidades da política stalinista ao mundo.
 Principais pontos:
*Targan é uma pequena aldeia a 120 km de Kiev, a capital da Ucrânia. Durante 1932 e 1933 metade da população morreu de fome.
*Este período ficou conhecido como Holodomor. Não foi a falta de alimentos que esteve na origem do flagelo mas uma ordem da União Soviética de Stalin, após a coletivização forçada.
*Os camponeses recusaram integrar os “kolkhozes” e a entregar as suas produções.
*Oleksandra Ovdiyuk, recordada que “os bolcheviques criaram brigadas especiais de sete pessoas. Essas brigadas varriam as aldeias, em vagões, para confiscar qualquer feijão, grão ou outros alimentos que estivessem escondidos nas casas dos agricultores.”
*Os camponeses que sobreviveram à fome foram aqueles que conseguiram esconder alguns alimentos dos soviéticos e alimentar-se de tudo o que conseguiam obter, como por exemplo folhas e talos de milho.
*Segundo os sobreviventes, no inverno de 1932 – 1933, as pessoas viram-se obrigadas a comer até os animais de companhia, como cães e gatos. Chegou mesmo a haver casos de canibalismo, como recorda Olena Goncharuk. “Tínhamos medo de andar pela aldeia pois os camponeses estavam famintos e caçavam as crianças. Lembro-me da minha vizinha, ela tinha uma filha que desapareceu. Fomos à casa dela. A cabeça estava separada do corpo e o corpo estava a assar no forno.”
*O cemitério de Targan era, em 1933, uma vala comum. Cerca de quatro centenas de camponeses foram aqui enterrados, muitos ainda com vida.
*Estima-se que a Grande Fome tenha provocado milhões de mortos. Devido à magnitude do Holodomor, os historiadores ucranianos classificam-no como genocídio, uma classificação pouco consensual. Os acadêmicos internacionais tendem a classificar o Holodomor como um crime contra os direitos humanos.
*O historiados ucraniano, Volodymyr Serhiychuk, considera que defende que o termo genocídio é o adequado pois, como conta, “houve a fome em outras regiões da URSS, no Cazaquistão, por exemplo, mas os cazaques podiam ir e procurar comida em regiões limítrofes da Rússia, ou no Quirguistão e Uzbequistão. Mas os ucranianos não tinham possibilidade de ir à Bielorrússia ou à Rússia, porque as fronteiras estavam fechadas e não lhes era permitido comprar bilhetes de comboio. Os agricultores ucranianos não quiseram aderir aos “kolkhozes “, nem dar aos bolcheviques a sua produção. É por isso que os bolcheviques não tiveram outra opção senão matá-los à fome,” conclui.
*Desde 2006, a Ucrânia instituiu que o quarto sábado de novembro seria o dia do Holodomor. Um dia em que todo o país lembra os milhões de ucranianos que morreram à fome, colocando velas em todas as janelas e nos monumentos evocativos.
*Apesar do Holodomor ser reconhecido como genocídio por mais de 20 países, os académicos internacionais consideram que este não foi um ato com um intuito de exterminar um povo, pois outros países e outros povos foram, também afetados. Uma ideia, defendida, também, por André Liebich, Professor no Instituto de Altos Estudos Internacionais e do Desenvolvimento, Suíça, historiador especialista em países da ex-URSS.
*O primeiro artigo da lei ucraniana sobre o Holodomor define-o como genocídio do povo ucraniano. É reconhecido como tal em mais de 20 países. No entanto, para muitos, a utilização do termo’‘genocídio” não é o mais adequado. Por quê?
De facto, o termo é mal escolhido. Quando pensamos em genocídio, especialmente no contexto da década de 30, pensamos primeiro no Holocausto. Mas a diferença é que o Holodomor não afetou só o povo ucraniano, afetou também outros povos, no interior da Ucrânia e mesmo fora, como no Cazaquistão e na Rússia. Além disso, o Holocausto foi uma campanha, uma intenção de exterminar um povo, enquanto o Holodomor, se não houvesse milhões de vítimas, o que é indiscutível, não foi planeado com o intuito de erradicar o povo ucraniano. Foi o resultado de uma política desumana e brutal de Stalin, que não hesitou, perante o número de vítimas que iria criar. Mas a sua principal intenção não era eliminar os ucranianos mas realizar o seu programa, custasse o que custasse. Mesmo à custa de milhões de vítimas, especialmente agricultores, que eram, na sua maioria, ucranianos.     

*Holodomor: um crime contra a humanidade e não como um crime contra um povo em particular. Se concebermos o Holodomor como um crime que afetou milhões de pessoas em toda a ex-União Soviética, temos uma base para a comemoração comum, para uma reconciliação entre russos, ucranianos e outros povos. Se pretendermos classificar a tragédia do Holodomor como puramente ucraniana e que visa apenas os ucranianos, isso criará conflitos com aqueles que foram, também, vítimas dessa tragédia.