GEOGRAFIA
POLÍTICA DE ÉLISÉE RECLUS
Um francês de ideologia anarquista, conta com uma extensa obra referente
a “Geografia Política”. Tendo várias barreiras impostas as suas ideias
contrarias as explorações de classes e o nacionalismo imposto por fronteiras. A
contribuição de Reclus também se faz evidente no que se refere ao seu método de
análise geográfico, ao defender a unicidade da geografia, e incluir a concepção
de “leis” que resultam de um processo contraditório que, engendrado pela
combinação de diferentes elementos, move a humanidade a partir de períodos de
progresso e retrocesso que se alternam. Sua acepção analítica contempla a
compreensão do mundo a partir de uma dimensão espacial e temporal na qual os
indivíduos e a sociedade possuem um papel histórico fundamental. Fundou,
portanto, as bases de uma “geografia social”.
*1851
que Reclus com vinte um anos, redigiu o seu primeiro texto político “O
desenvolvimento da liberdade no mundo”, no qual já existia uma referência a anarquia:
“Nossa meta política em cada nação em particular é
a abolição dos privilégios aristocráticos, e em toda a terra a fusão de todos
os povos. Nosso destino é chegar a este estado de perfeição ideal onde as
nações não terão mais necessidade de estar sob a tutela de um governo ou de
outra nação; é a ausência de governo, é a anarquia, a mais alta expressão de
ordem.Mas a liberdade política não é nada sem as outras liberdades, não é nada
sem as liberdades sociais.”
Princípios que Reclus e jamais abandonou, ao contrário a sua opção pelos
ideais anarquistas acentuaram estas convicções.
Suas reflexões caminham para um mundo sem Estado, sem fronteiras,
criando profunadas indagações sobre a constituição da sociedade, dos valores
que estão inseridos nas classes sociais, Estado e políticas.
Reclus
rejeitou a dialética clássica dos contrários, e igualmente a dialética hegeliano
- marxista. Igualmente, como os demais anarquistas, preteriu o determinismo geográfico
desenvolvido por Friedrich Ratzel e levado a exageros por seus discípulos Ellsworth
Hungtington e Ellen Churchill Semple; e também o possibilismo de Paul Vidal de
La Blache. Além disto, questionou o darwinismo social elaborado pelos seguidores
de Charles Darwin os quais proclamaram que a destruição do mais débil era a lei
da natureza. Reclus o analisa como uma ideologia que tinha como objetivo
legitimar e oprimir parte uma grande parte da humanidade. O seu sonho anarquista
de fraternidade humana, em lugar de buscar razões na competição e na luta pela
sobrevivência, reconhecia a importância da harmonia (não isenta de contradições),
da cooperação e da necessidade da adaptação do homem ao meio natural. Ao relacionar
as leis da natureza com as relações que regem as sociedades humanas Reclus afirma:
“Invoca -
se, contra as reivindicações sociais, o direito do mais forte, e até mesmo o
nome respeitado de Darwin serviu, contra sua vontade, para defender a causa da
injustiça e da violência...“Vede”, dizem eles (os naturalistas) “é a lei fatal;
é o imutável destino, ao quais devoradores e devorados estão igualmente
submetidos.”
Por
diversas diversas ele recebeu pesadas críticas a Reclus, fator esse comum em um
período de grandes embates teóricos.
“Segundo
carta de Marx a Bracke, em 20 de novembro de 1876, esse momento fica claro: “O
que pensam os socialistas de língua francesa me desagrada profundamente. Eles
são representados, bem entendido, pela triste figura dos irmãos Reclus, cofundadores
da aliança e profundamente desconhecidos por suas obras socialistas” (ANDRADE,
1985, p.16). E outra dura crítica que Engels faz em uma carta enviada para
Liebknecht, de 31 de julho de 1877. “Reclus é um copiador ordinário e nada
mais” (ANDRADE, 1985, p.16)”.
Como geógrafo
que Reclus depositou a maior parte de seus esforços. Com uma vasta obra
discorreu sobre diversos temas e contribuiu com a consolidação
da geografia. Isso de tal modo que muitos autores contemporâneos têm sofrido
influência de suas ideias. No que diz respeito à relação entre o homem e a
natureza suas análises tiveram influência dos métodos usados pela da Escola
Tradicional. Entretanto, sua preocupação com as desigualdades sociais do mundo
o distinguiu
dos
demais autores tradicionais da época, principalmente Vidal La Blache.
“Dessa forma, o que gerou efetivamente a
negligencia da geografia de Reclus, diante de seus contemporâneos, não fora a
insuficiência teórica de seu pensamento, ao contrario, era uma geografia que
mesclava eruditismo, vinculado a filosofias antecedentes, e por sua vez, era
uma geografia voltada para o presente, alinhada a mais recente teoria social
critica, direcionada à construção de uma sociedade igualitária, moderna e
humana. (PINTO, 2011, p. 5)”.
Entretanto,
do ponto de vista especialmente geográfico, é importante saber como as formas
políticas das sociedades correspondem normalmente às diversas formas terrestres
na evolução da humanidade; pode - se estabelecer a este respeito regras gerais,
que prevaleceram enquanto a constituição de grandes Estados centralizadores que
dispunham de formidáveis meios de coerção não suprimisse os contrastes
originários. (RECLUS, 1985, p. 70).
Nesse sentido seu discurso é inovador, porque não vê apenas a relação homem
e meio, ma também as relações entre os homens como fato importante no
entendimento de sua geografia. Reclus é considerado por Yves Lacoste o geógrafo
Francês mais importante e o primeiro geopolítico. Dmitry Nikolayevich Anuchin defende
que Reclus forjou o conceito do meio ambiente geográfico.(DASCANIO, 2011, p.8).
Compreender Reclus é fazer do
questionamento uma ferramenta para o entendimento e evolução da geografia
política, como Luta de Classe, Estado, Sociedade, Colonização, Progresso
Técnico e Desigualdade Social. Historicamente o Estado
interveio para garantir os “direitos” da burguesia, ou outra nomenclatura que
se use para a classe dominante do período. Muitas vezes apelando para um de
seus braços fundamentais, as forças armadas.Os anarquistas proclamam, apoiados
e na observação, que o Estado e tudo qua a ele se liga não é uma pura entidade
ou então alguma fórmula filosófica, mas
um conjunto de indivíduos colocados em um meio especial e sofrendo sua
influencia. Estes, elevados em honraria, em poder, em tratamento acima de seus
concidadãos, são por isso mesmo forçados, por assim dizer, a se crerem
superiores as pessoas comuns. (RECLUS, 2011, p.24).
A questão
colonial foi outro assunto que Reclus abordou diversas vezes e disponibilizou
boa parte de seu tempo para a questão. Inclusive o Brasil esteve em sua
análise, no que se diz respeito à colonização e sua abordagem sobre o tema é rico
e pouco estudado pelos geógrafos do mundo. Ainda não reconciliada com a
população da ilha vizinha, a Grã-Bretanha esforça - se em formar uma só nação
com suas “filhas”, as colônias esparsas no mundo, a potencia do Canadá, os
Estados da África meridional, Austrália e Ásia. Os patriotas ambicionam a união
de todos esses países numa federação estrita, constituindo uma “Bretanha
maior”; esse tipo de nacionalidade que o mundo nunca viu teria, ao menos, a
incontestável superioridade de assentar - se unicamente na livre participação
das nações interessadas. (RECLUS, 1985, p. 109).
Diversas
foram as contribuições de Reclus à geografia, e também especificamente a
assuntos que tangem a geografia política.Sua atuação e concepção anarquista de
mundo fez com que toda sua obra tivesse como objetivo final a superação da sociedade
dividida em classes sociais, ou seja, desigual. Em alguns momentos, por motivos
financeiros, Reclus publicou conteúdos mais amenos, menos críticos a sociedade,
mas isso em nenhum momento prejudicou a amplitude de suas obras. Nesse sentido,
o autor retrata as possíveis saídas dos comerciantes, artesãos e pequenos
industriais na lógica do capitalismo que se consolidava no início do século XX:
“É evidente que, na evolução contemporânea, o
comercial individual com suas lojas, suas tendas de comércio, suas adegas, suas
transações efetuadas em pequenas somas, está absolutamente condenado; sua transformação
direta em um organismo normal da nova sociedade é impossível. Todos os pequenos
lojistas dariam, portanto, uma prova de sagacidade histórica se eles dirigissem
sua experiência, sua vontade, o
conjunto de suas forças e de seus recursos para o
socialismo reivindicador. (RECLUS, 2011, p.53)”.
É
impossível analisar sua obra sem entender os fundamentos que norteiam teoricamente
e metodologicamente o anarquismo. Toda a produção intelectual de Reclus ainda
dentro da geografia clássica, apesar de não romper com os métodos tradicionais
de análise da realidade geográfica (positivismo – naturalismo), consegue introduzir
um pensamento crítico e inovador, graças a sua origem anarquista e interesse
pelo político - social. Na geografia política, Reclus não só decorreu sobre as
diversas temáticas da área como rompeu com análise sempre ligada ao poder e aos
grandes agentes econômicos. O que nos permite afirmar seu valor no assunto e
relevância sobre o tema.
OBS: (ANDRADE, Manuel Correa. Élisée Reclus.São Paulo: Editora Ática,
1985.CASTRO, Iná Elias. Geografia e Política/Território, escalas de ação e
instituições.Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 2005.CLAVAL,Paul. História
da Geografia. Lisboa: Edições 70, 2006.COSTA, Wanderley Messias. Geografia
Política e Geopolítica. São Paulo: Edusp Editora da Universidade de São Paulo,
2008 DESCANIO, Antonio Marcos. Reclus e o estudo das cidades, um discurso geográfico
inovador.p. 1/12. In: Colóquio Internacional Élisée Reclus. Anais...São Paulo,
2011. LACOSTE, Yves. A Geografia Isso Serve, Em Primeiro Lugar Para Fazer A Guerra.
12 ed. São Paulo: Editora Papirus, 2006.)